Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Minhas borboletas íntimas

Ainda deve ser de manhã quando acordo, pelo silêncio que se esqueceu na memória ouço o trabalho pueril da cidade. Ainda tenho sono.
Na sensação de começo que se inicia, perco a motivação de seguir, de continuar sugerindo a prova de que não sou capaz. Por dizer, estou cansado.
Fecho os olhos sentindo a verticalização de meu horizonte, a incapacidade aumentada no plano do infinito. Rapidamente as palavras percebidas em minha mente começam a voar aos céus de um horizonte prático. Começo a perdê-las de vista e ploriferá-las. Numa concepção calada, elas mudam e praticam cores, incorretamente variam para não serem identificadas. Somem enquanto novas surgem. Palavras em cores tanto.
Respiro profundo requerindo aconchego. Sugiro um redor cadenciado, referência de meu tempo, na espera de eu ser um simbolista. Não sou atendido.
Resolvo por mim acalmá-las, ser o produtor de seus desejos íntimos, carregar em meu pensamento a decorrência de serem. Elas simplesmente partem, partidas em metade até serem quase esgotadas. Sinto o remorso em mim, elas somem para um possível sempre e a culpa se ocupa de mim.
Abro os olhos no som amargo dos corredores. Respiro o sopro de um lugar fechado. Não há palavras nem menção de atraso. Aparentemente tudo corre bem.
Volto a fechar os olhos numa esperança que me doma, me persegue, me arranca de meu lugar infeliz. Tenho os meus pés como soltos e começo a flutuar, minhas rotas de significação se sobrepõem às de orientação. Sou padrão de minha imaginação capaz.
Chego perto das palavras que foram minhas, que partiram e me desassossegaram, que agora voltam a ser palavras do absoluto, voltam a ser reunidas. As cores tendem a construir uma paisagem, a vontade de ser parte faz de todos um retrato belo e mágico. Leve sensação de reconstituir a felicidade.
Vou em busca delas, quero tomá-las por necessidade, carregar nos meus planos o que entendi de concreto e completo. Quero convidá-las ao conforto do papel, ao destino coerente das belas imagens percebidas em outro plano.
Não consigo. As palavras dobram e redobram ao redor de mim, estico o táctil e não as alcanço. São meus possíveis reflexos, minhas borboletas íntimas. São elas que se sugerem, não podem, por natureza dos efeitos, serem sugeridas.
De volta ao quarto num presente que não deve ser mais de manhã, permaneço em profundo silêncio, indiferente aos diagnósticos especializados.

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