Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sentir não mais

Agora, ao despertar dos galos, ele não mais acorda despertando em si um bom dia. Não faz questão de preparar o café, equilibrando sentidos e sabores. Não sai pela manhã respirando novas brisas de conforto e naturalidade.
Não passeia pelas passagens pouco urbanizadas, pelo que chamamos de rua ao invés de caminho. Não olha nos olhos dos outros para não ver refletida sua própria imagem artificial. Não mais faz questão do bom senso ou juízo, das injúrias imperfeitas blasfemadas por outrém. Não mais se cansa nem retoma imperfeitas declarações.
Não pensa no correto a se seguir, não se lembra de como ou em que sentido seguir. Não mais se sente humilhado pelas promessas fáceis e piedosas. Não se estica em longos olhos para saber das novidades.
Não sente o perfume roubado de uma rosa nem o leve vislumbre de um dia ensolarado.
Não percebe a permanência de um beijo nem a falta que faz um abraço. Não deseja voltar para casa nem continuar na rua. Não consegue medir a capacidade de se estar.
Está assim sentindo desde o dia em que você partiu.

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