Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sobre os tempos meus e de minha avó

Ao entrar em casa e me deparar com mais um relógio sem bateria, parado, exigente de manutenção, sinto uma estranha sensação sobre a resolução do que poderá ocorrer. Nos últimos vinte dias, passados solitariamente devido a separação, esta é a quarta bateria de relógio a ser trocada.
Não sei ao certo quantos relógios possuo em casa e confesso que só os percebo quando de sua atividade, nenhuma. No passar do dia, não me situo em nenhum dos tempos, agora trocados. Só os mantinha ativos nas mudanças ocasionadas pelo horário de Verão.
A greve dos ponteiros, já havia resolvido apelidar a situação na troca do terceiro relógio, numa sequência curta de dias indica atraso de vida, palavras essas de minha avó.
Quando os fatos agem na figuração da fé, a consequência faz sentido.
Tendo a querer acreditar.
Devo, então, procurar os relógios inválidos que tanto me arruinam a vida. Algum relógio, há muito escondido numa gaveta, capaz de ser a razão de minhas discórdias conjugais.
Mas, há de se pensar na rebeldia de um tempo presente, um castigo pelos anos de desperdício profano, de reclamações sobre a perpétua falta, esparramado pelo sofá.
Penso no possível das probabilidades e chego ao mundo das coincidências, deixando de lado assim a fé.
Me conjugo na ciência das coincidências, campo seguro dos ocupados, afinal, superstições são conceituadas apenas nos tempos de minha avó.

Um comentário:

  1. S I N C R O N I C I D A D E...

    ... Apesar dos relógios, penso que, parados ou ativos, não mudam a atividade do tempo.

    Um instante. É a única coisa que deveríamos ter em mãos. E nelas moldá-lo.

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