Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bravo!

De súbito, uma linda mulher atravessa o salão. Com largos passos e corretos, caminha desalinhando o horizonte com sua atitude Channel e lábios contornados. Seus olhos verdes memorizam o passado enquanto sua boca evoca o presente. Chama o ator por Otávio, levanta sutilmente seus calcanhares para cravar-lhe um beijo no rosto e uma facada no peito. Sussura ponderadamente suas considerações e gira a faca até fazer pingar seu prejuízo.
Dá as costas ao seu ator tão querido, preferido em outrora, e atravessa de volta o abafado salão. Dá adeus a um jovem adolescente, perdido no meio de uma festa chata, que a admira de longe, apaixonado. Se retira, deixando sua presença no coração de um indagável e devoto menino.
Um silêncio surge após a queda. Uma visão, um cenário, um momento pesado e febril. Nem o tempo ousera interferir na capacidade vaidosa do som.
Até que um membro da sociedade, não se sabe ao certo de qual tratamos especificamente, inicia uma salva de palmas. A perplexidade toma o público, todos, menos um, o morto, se comovem com brilhante atuação.
De longe se ouve um burburinho de que a atriz fora convidada por uma grande produtora que se instalara na cidade, alguns concordam, outros investem. Algo quase planejado.
Morre ao som de "Bravo!", o verdadeiro ator, na melhor de suas representações.

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