Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sinfonia ou Homenagem ao Vizinho

Às 8:40 o dia começa. Martelo martelo, cai o bloco. Um olho se abre, um outro se adapta. Martelo martelo, cai o bloco. O som se propaga, o tom em fúria. Martelo martelo, cai o bloco. Suspira suspira, começa o dia. Martelo martelo, cai o bloco. Bom-dia, que dia, tomara inócuo.
Às 9:05 segue a manhã. Furando furando, se abre a parede. Um caminho se abre, um outro se solta. Furando furando, se abre a parede. Do fim ao fundo, do juízo à dor. Furando furando, se abre a parede. Não há motivos, não há certezas. Furando furando, se abre a parede. Espaço vazio, um corpo sem sede.
Às 9:50 a manhã é quem corre. Serrote serrote, corta a tábua. Suspiros delírios, profundo atraso. Serrote serrote, corta a tábua. Correndo correndo, o tempo passeia. Serrote serrote, corta a tábua. Espelhos contínuos, semana à semana. Serrote serrote, corta a tábua. Vizinho cretino, sem mágoa sem mágoa.
Às 10:18 a rua é o mundo. Buzina buzina, quem anda não para. Caminhos corretos, o mais razoável. Buzina buzina, quem anda não para. Primeiro o burro, depois a máquina. Buzina buzina, quem anda não para. Insolúvel destino, maltrata quem passa. Buzina buzina, quem anda não para. Blasfêmias ao céu, desgraça sem graça.
...

Mas, para que nos alongarmos em sortimento, se preferimos o silêncio?

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