Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



segunda-feira, 26 de abril de 2010

Na espera de um beijo

Eles ali estavam. Sentados. Num banco sujo de parque central ou distrital. A natureza e suas graças também estavam. Na cena do dia, dois desejos que se admiravam, se certificavam de não estarem certos.
O momento era conceito que na prática fazia sentido. Não para ele, talvez para ela. Não distinguia os concretos brios de aprovação, para ele tudo era ela. Para ela o tudo podia ser ele.
Se esbaldava numa preguiça lenta, vergonhosa. Perdeu a voz quando quis explicar, ela ouviu e entendeu. Puxou, nos olhos dela, verdades. Ficou triste por passadas separações.
Pensou em si num passado impossível.
As mãos se perdiam num espaço achado. Tudo levava a entender o que já era passado. Um momento sem espaço determinado. Ela ainda o aguardava.
A tarde se cansava, suspirou um vento frio. Os lábios dela secaram, os dele já o estavam desde o primeiro olhar.
As nuvens fecharam o brilho de seus olhos. Sonhador, estava sônambulo àquela paisagem. Teve um breve impulso, em vão. Os olhos dela já estavam fechados.
Voltaram à vergonha inicial.
Desculpas caladas a fizeram levantar, sentiu um rubror de faces e um inegável inexplicar. Nos olhos dele um breve palpitar tardia num leve suspirar.
Deixou ela partir.
O sol se recolhia devagar e a demora o fazia lembrar de estar só outra vez.

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