Quando sabe-se menos.

A partir do momento em que a significação surge nas palavras de um texto, na exata precisão de ideia, nasce a sabedoria. A leitura, a elucidação e a compreensão provocam a emancipação da sabedoria alheia. Trata-se então da sabedoria íntima que se subtrai, uma concepção pessoal que acaba de ser preenchida por outro, uma possibilidade de vislumbre inédito que se anula, desaparece. Então, quando isso ocorre, estamos a saber menos do que o nosso egoísmo idealizou.



terça-feira, 4 de maio de 2010

Frutos de um casal

Descartou por toda a vida o desconforto e amou os que sabiam se conciliar. Ao seu modo ele era assim. Assentia seus anseios como modo de se justificar.
Em sua triste infância, sofreu por querer concertar sinfonias em desconserto. Nas brigas alheias, via o orgulho a se deleitar e a vingança a se proliferar. Chorou em descanso os primeiros anos para, quando adulto, melhor se formar.
Nas vias da maturidade conheceu Tereza.
Menina, ilustre na juventude, bela e peculiar. Carregava sob os olhos as horas que passavam somente à noite devagar. Seu maior medo sempre fora não amar.
Conheceram-se quase num desenrolar. Ele havia saído mais cedo para uma visita familiar, enquanto ela se distanciava, mais uma vez, de alguma obrigação.
Na entrada do Café Royal, os olhos tranquilos e os manifestados se cruazaram num momento magistral, para ele, que abriu a porta gentilmente.
Ela se arrependeu de estar onde estava e não o notou. Por um momento ambos pensaram em chorar.
Se conheceram minutos mais tarde, quando ela saía desolada em sua pífia compreensão, ele não. Naturalmente encorajado, se delarou pela mão num elogio e no sorriso uma verdade. Se tornou solução para um coração amargurado. Ela o aprovou.
Desfrutaram de um amor gentil durante os anos em que foram felizes.
Nos anos de alegria conjugal, ele suportou seus defeitos de forma platônica. Atraiu para si a responsabilidade de tais costumes desfeitos.
Nas diversas inaptidões, aprendeu a cozinhar, a tocar um pouco de piano, a amar seus pais e a plantar legumes. Gostos de que ela não era capaz nem de tentar. Mesmo assim ela pedia, implorava e ele fazia como se fosse ela, pelo menos era o que se pretendia.
A vida por amor se seguiu.
Nos últimos anos quiseram ter filhos, a vitalidade dos argumentos era inusitada, sem quaisquer precauções tentaram. Ela sorriu por dias indefinidos e ele também.
O dom maternal não seguiu seu curso natural. Tentavam em vão e, por isso, foram consultar um médico especializado.
Por esperança, realizaram muitos exames e constatações. A incubência de buscar os resultados seguiu ao marido, e assim ele foi. Os demasiados alardes tinham sua razão. A jovem senhora não podia ter filhos, o que, certamente, traria dores à relação.
Permaneceu, por um instante, escancarado na verdade, mas logo se arrependeu.
Chegou em casa atrasado e pouco se acomodou. Tinha nas mãos um desejo divino e nas palavras outra declaração.
Decidiu por se tornar um mártir e isso, sim, ocorreu. Se seguiram lágrimas e lágrimas, dores e mais dores, sendo o culpado um único só.
Ela optou pela separação. Abandonou seu marido, que tanto soubera lhe amar, mas de maneiras infrutíferas.
Ele apenas consentiu.

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